Engenho de Farinha de Mandioca em Ribeirão Pequeno

publicado em:23/03/18 7:25 PM por: Jurandir Figueiredo Engenhos de RibeirãoHistórias e FatosPesca e Lavorura

Quinta-Feira, 21 de Setembro de 2006 | 15 comentários

Os engenhos de nossa região, do tipo, chimarrita ou pouca pressa como eram conhecidos no litoral. Movido por tração animal, sendo utilizado a força de um boi, cangado e antrolhado a almanjarra adaptada ao eixo do peão da roda bolandeira a roda grande do engenho que movimenta a roda da cevadeira com farpas de chapa de metal, lata, cobre ou cerrinhas. A fabricação de farinha de mandioca era um ritual totalmente artesanal, com muito trabalho e imensa força, mas que tinha no processo o envolvimento comunitário.

A Farinhada
O inverno é a época de farinhada, toda família auxiliada pelos vizinhos, amigos começam a lida da farinhada. Era costume nesta época as famílias se mudarem para o engenho, se adaptava a grande casa para além da produção de farinha virar casa de moradia, as camas eram improvisadas “As Tarimbas” o grande companheiro o rádio para ouvir as músicas caipiras, isso já nos anos 70. Pela manhã era comum as neblinas dos meses de maio, junho, julho… Tempo de laranja madura, coleirinho, sabiá, tiés, as cantigas dos passarinhos são inesquecíveis… Mandioca plantada na roça a mais de um ano era hora de colher. Instaladas no engenho, começa o processo, cangar os bois no carro e ir para a roça arrancar e trazer as carradas de mandioca. Começa-se a raspar a carrada, após raspada era lavada e levada ao cevador, hora de cangar e antrolhar o boi, após cevada (ralada) vai para a prensa, dentro dos tipitis, a prensa é composta por mesa de madeira fusos, fichas e concha… A massa fica na prensa até o ponto de fornear, onde a massa é desmanchada no cocho e peneirada, indo para o forno, uma construção de tijolos e pedras com um tacho de cobre com engrenagens de madeira correias, tocada por um forneador, que normalmente inicia o trabalho bem cedo na madrugada. Também é na forneação que se faz o beiju, cuscuz, pamonha, biagica…

Com a inovação permitida pela eletricidade, os métodos de trabalho no engenho permanecem praticamente intocados apenas o processo de cevar a mandioca pelo processo elétrico. Carros de boi para o transporte da mandioca, a raspagem ainda era um trabalho comunitário, quem raspa tem direito a fazer beiju e ganhar massa.
É cada vez menor u número de engenhos, a um desinteresse os filhos não continuam o ofício, o preço e a concorrência das farinhas industrializadas contribuem para a queda da produção pelos engenhos.
A farinha de madioca é um alimento rico em carboidratos e fibras além de ser um dos principais produtos da agricultura familiar em todo o Brasil.
A tecnologia de fabricação da farinha é simples, mais exige cuidados na seleção da matéria-prima e boas práticas no processo e fabricação.
O rendimento médio de farinha é de até 30% do total de raízes processadas. A farinha deve ser armazenada em local seco, ventilado e protegido de insetos e roedores.
A forma mais comum de consumo da farinha de mandioca é o pirão. Feito de água quente ( nalho ou escaldado) ou água morna, também o pirão pode ser feito com os caldos de feijão, de peixe, de carne, de cozido e tudo que é caldo…

VOCÁBULARIO PRÓPRIO
Ao visitar um engenho tem-se contato com palavras pouco conhecidas: sevador, prensa, fuso antrolhos tipiti, cangalha, quarta, paiol, almanjarram cangam rodete, hélice, etc. Além da farinha de mandioca, tembém chamada de farinha de guerra.
Conheceça algumas delas e os seus significados:
Almanjarra – Madeira curva que liga o Peão da Roda a Cangalha ;
Andame – Caminho por onde o boi passa no trabalho do engenho em geral é forrado com capim melado;
Antrolhos – Venda colocada nos olhos do boi para que ele rode no Andame;
Canga – Suporte de madeira com dois rebaixos que complementada com o canzil para juntar os bois no carro;
Cangalha – Canga colocada no Almanjarra para que o boi trabalhe no Andame;
Canzil – Cada um dos dois paus da canga, entre os quais o boi mete o pescoço;
Fuso – Parafuso de madeira que ira fazer pressão na Prensa;
Helice – É a pá do forno que tem duas pontas e um rodete embutido para mexer a farinha no forno de torração;
Paiol – Local destinado a estocar a farinha depois de pronta, para o consumo e ou para a venda;
Peão de Roda – é o mastro que segura q roda bolandeira;
Prensa – Local onde se coloca os tipitins para retirar a água da massa da madioca;
Roda Bolandeira – É a roda grande do engenho;
Rodete – É a engrenagem de madeira em forma de dente com finalidade de tocar o engenho;
Sevador – É a pessoa encarregada de Sevar (ralar) a mandioca;
Tipiti – Cesto feito de taquaras usado para colocar a massa da mandioca na prensa;
Quarta – É uma medida volume é ¹/4 do alquer. Um saco de farinha tem 2 alqueres.
¹/4 Alquer = 1 quarta = 10 litros = 05.50 kg;
¹/2 Alquer = 2 quarta = 20 litros = 11,00 kg
1 Alquer = 4 quarta = 40 litros = 22,00 kg
2 Alquer = 8 quarta = 80 litros = 44,00 kg

Enviado por: Jurandir S Figueiredo

 

 

Fotos de Engenhos de farinha de Ribeirão Pequeno – Laguna – SC.

 

Cometários

1 -Antonio francisco duarte 12/01/2007
Muito rico em detalhes os comentários, histórias e fatos disponibilizados no site. Me lembro muito bem, lá pelos idos dos anos 60, quando ainda quase criança, e meu papai Aristides Duarte e mâe Laura, já estavam cedinho no engenho de farinha que tínhamos na “Ponta”, e era comum no inverno toda a familia, tios e primos de capivari e tubarão vinham ajudar nas férias de julho a raspar mandioca para a produção de farinha e bejú. Que saudade. bela e saudável infância, adolecência e juventude. Abraços. Antonio Francisco Duarte. Fpolis, 12/01/2007. markconsult@bol.com.br

2 -MCorrêa 17/01/2007
Meu caro amigo de fé meu irmão meu companheiro, que valoriza Ribeirão pra quem não lembra de Antonio Francisco Duarte é só lembrar do BRANCO que já vem na lembrança esse foi meu amigo de futebol de orupucas de gaiolas de fundas de pendurar nos jepes quando vinha em Ribeirão nas carroças do seu Silvio pai do querido deputado Edinho Bez logicamente q lembro-me do engenho de seu pai era lá na ponta e os guris tinham medo de entrar no pasto porque já estavam acostumados com o dono anterior q era o seu Antonico do Liscar, que foi delegado e andava com um cavalo branco todo pintadinho e era bastante respeitado. Mas graças a Deus ainda se encontramos em Floripa não é Parceiro?

3 -Orlando de Oliveira 14/02/2007
É com grande satisfação e saudades, que hoje estou revivendo meu passado, o tempo que com cinco anos de idade ia para o engenho do Tio Avelino e tia Maria Lorinda, lá no morro. Relembro os tempos da laranja bruta, cuscus, bejagicas e muitas outras delicias feitas através da mandioca, delicias estas feitas por mãos daquelas mulheres guerreiras, que passavam dias e dias dentro de um engenho de farinha, ajudando seus maridos, no sustento da familia. Saudades é o que sinto neste momento. Revivendo aqueles tempos, comparo com o tempo atual e vejo o quando a coisa mudou.Trabalho, educação, família e religião, éra coisa sagrada naquele velho torrão.Sou filho de Aurélio Figueiredo de Oliveira e Maria Medeiros de Oliveira, neto de Antonio Domingos e Zé Medeiros. Acho que me reconhecem. Lembranças a todos e parabens aos organizadores deste saite na internet.

4 -WALTER DE BEM DUARTE 27/02/2007
A quem teve a iniciativa ,e aos colaboradores ,meus parabens ,já não reconheço a maoria nem de nome, e tenho dificuldades de identificar o clã ,mas, Marcio voce sonhou!!! um cavalo branco dequem? e ainda dizer que o branco jogava bloa!!! e coisas tais , e pior ele dizer que fazia farinha , olhem guris voces parecem pescadores ,coisas que nunca foram , juizo. Meus caros um abraço a todos os RIBERONENSES, e continuem a fazer oque puderem , e tenham certeza eu os adimiro. Walterdebem@htmail.com

5 -Marcio Corrêa 09/03/2007
O meu amigo Walter então vc não lembra quando seu aristides comprou o Engenho lá na Ponta que era de Seu Antunico do Ribe Grand um Sr que usava aqueles chapeus de banderante e aquelas capas que cobriam o cavaleiro e também o cavalo. Entre em futebol que vc vai ver se o Branco jogava ou não jogava vai dizer que vc não lembra também quando vc entrava pela porta das mulheres no baile de Parobé e vc sabe o motivo, amigo saúde e campari.

6-WALTER DE BEM DUARTE 23/03/2007
Marcio como lembro me bem do sr do Ribeirão grande , sei que entrei pela porta das mulheres e até o motivo , foram sempre elas o motivo(rsrsrs) . Mas o futebol do branco , lembro do João , Carlos , e até de voce meu lateral esquerdo preferido, mas do branco só lembro do esforço dele , éra um lutador, um guerreiro , mas infelismente ele eu e outros só tinhamos vontade faltava a arte. Abraços meu querido e vale pelas lembranças. Continuem voces são bravos. Walter

7- Ronaldo de Bem 21/06/2007
Que beleza, faz tempo que não vou no Ribeirão, sou neto dos falecidos Miguel Clarisdino de Bem e Albertina Miguel de Bem, bisneto da Ana Porto de Bem ( “dindinha Aninha”). Se por acaso voces tiverem alguma foto ou relato sobre os de Bem me manda um email …abraços a todos e parabéns pelo site.

8-Eneida 24/04/2008
Como era bom fazer farinha….A vida era dura, mas na época de fazer farinha era uma festa. Íamos para o engenho, como era bom comer beju feito na hora…..Nossa qtas saudades desse tempo…..

9 -ELAINE B. DA ROSA 07/12/2008
há…. quem não conhece a famosa caçacha e a farinha do ribeirão não sabe que esta perdendo. É uma receita que ninguém consegue copiar. O cheirinho da massa crua da mandioca faz nos lembrar dos nossos avós…

10-ELAINE B. DA ROSA 07/12/2008, Olá Eliane, será que somos parente, entre em contato com meio e-mail, pois pesquiso a Família “…. da Rosa”, gostaria de saber informações sobre sua família. Sou natural de Imbituba, meu Fone é: oxx 48 9985-5653 ou e-mail: admeb@ig.com.br. Adoro visitar e conhecer os engenhos de farinha de mandioca, estilo Redote. Adaime Borges da Rosa

11 – Erica Souza Pego 29/08/2008
otimo!!

12 – Paulo Cesar Daux Filho 29/06/2009
Sinto saudades desse tempo. Tive oportunidade de conhecer um engenho em Jurerê, no norte de Florianópolis. O dono, senhor Manuel Gimera da Paciência, alem de pescador era produtor de farinha da cominidade local. Mas o tempo foi passando, veio a luz elétrica, o asfalto, os dólares… e o seu Maneca se foi, aos 98 anos de idade, levando consigo muitas histórias… sua viúva ainda vive, dona Deodora, mas a casinha simples já não existe mais e o ngenho foi vendido a muitos anos… deve estar em decomposição “enfeitando” a frente de alguma casa…

13 – Mário Cezar de Oliveira Cardoso 19/04/2012
Que bom ler tua produção sobre os engenhos em Ribeirão Pequeno…sou nascido em Indaial, Gravatal e convivi por toda a minha infância e adolescência com a produção de farinha artesanal. Meu pai era comerciante e comprava a farinha dos engenhos para revender em Tubarão e eu tive oportunidade de conviver com famílias de farinheiros…Foi um tempo muito importante de minha vida…aprendi muito no convívio com as pessoas do campo…lá há valores que trazemos para toda a vida. Minha profissão, durante toda a vida, foi ser professor de História nas escolas estaduais de Tubarão e Capivari de Baixo….Hoje, já aposentado, sou professor da Unisul, no Colégio Dehon e no Curso de História…. Estou muito feliz por ter encontrado um texto que resgata muito da história de Ribeirão Pequeno e que não é muito diferente de meu saudoso Indaial! Forte abraço Mário Cardoso

14 – joão cesar 15/10/2012
este tipo de texto tambem faz pensar na minha infancia laaa en ganchos de fora (governador celso ramos) ONDE O MEU avô era dona de um lindo engenho de farinha ,lembro das brincadeiras,tipo corre calha ,era uma calha de coco que a gente corria de morro abaixo no capim melado pra ela pegar velocidade Tambem adorava comer farinha seca quentinha só que nesta hora era hora da gente apanhar ,porque comia farinha quente e iamos beber agua que era proibido pelos mais velhos. meu avô nóca era uma homem rustico mas adorava conta suas estorias de visagem ou seja fantasma hoje só me resta lembranças , mas muito boas. Abraços a todos

15 – Adaime Borges da Rosa 11/06/2015
Estou tentando fazer um engenho de farinha de mandioca, estilo açoriano estilo redote, onde o forno será a braço, como era antigamente, tenho a prensa de madeira com 3 fusos, a roda grande do engenho, a roda para servar (moer a mandioca, para depois ir para prensa). Está faltando a peça chamada RODETE, procuro para comprar. Se algum souber de algum para vender, entre em contato com este e-mail: admeb@ig.com.br, ou pelo fone: 9985-4653. Ou então alguém que sabe fazer(carpinteiro), pois tenho a madeira.

 



A última modificação foi feita em:novembro 20th, 2018 as 11:35 PM


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