JOÃO EUFRÁSIO DE FIGUEREDO – DADOS BIOGRÁFICOS – Parte III
Quarta-Feira, 04 de Abril de 2007
RIBEIRÃO PEQUENO: RETORNO
Diante do somatório de dificuldades, em meados de 1934, João manteve a propriedade, vendeu alguns bens e retornou a sua terra natal, Ribeirão Pequeno, disposto a refazer sua vida. Acrescentou ainda à sua prole uma vizinha de nome Otília Pereira, cujo pai abandonou a família deixando os filhos pequenos em extrema miséria.
Na constante busca por dias melhores para si e seus filhos, João construiu uma casa de moradia com um puxado para comércio, na localidade de Coloninha, no Ribeirão Pequeno, local onde residiam seus pais e parentes próximos. Era uma comunidade praticamente composta somente por Figueiredos, com parentesco mais ou menos próximos. O comércio não ia muito bem porque a comunidade era pobre. A casa viria depois a ser transformada em escola.
Nessa época, um fato, contado depois pelo próprio João, viria a causar um pânico generalizado em toda a região. Ocorreu que à tarde do dia 17 de outubro de 1934, apontou por cima dos morros, voando lentamente e a baixa altura uma coisa estranha, de tamanho descomunal, algo inimaginável e inconcebível para os moradores da região. Sem saber o que estava ocorrendo, as pessoas imaginaram que fosse o fim do mundo pregado nas escrituras e fugiram desesperadas. Abandonaram ferramentas nas roças e puseram-se a correr para a Igreja, outros para suas casas reunindo as famílias; e os mais audaciosos reuniram-se na venda do Esaú Alves, tradicional lugar de encontro de aperitivos e onde se obtinham as informações mais recentes. Mas também ali ninguém sabia explicar o acontecimento. Esse pânico perdurou até o dia seguinte, quando alguém trouxe um jornal de Laguna dando a notícia de que o dirigível Graf Zeppelin vindo da Europa em direção a Buenos Aires, passara por sobre a região. Ainda assim muitos não acreditaram e continuaram aguardando o Juízo Final.
Pouco tempo depois desse fato, o Sr. Esaú, colocava à venda o seu estabelecimento comercial porque pretendia se estabelecer em Laguna, onde poderia melhor encaminhar seus filhos. Localizado no centro do Ribeirão Pequeno, defronte à Praça, a casa de comércio tinha boa clientela. João candidatou-se a comprá-la e o negócio não tardou a acontecer. Aí se instalou com venda de secos e molhados, acrescentando ainda a sua atividade um comércio atacadista. Os negócios agora prosperavam e ele já adquirira duas canoas de convés – símbolo de prosperidade, já que, dispunha de transporte próprio para as suas mercadorias.
Depois que os negócios estavam encaminhados, João arrendou um terreno na localidade de Ribeirão Grande e fez uma lavoura de arroz. O Nereu e o Nézio, apenas duas crianças, eram responsáveis por espantar os passarinhos que vinham comer as sementes recém plantadas, causando prejuízo à lavoura. Tarefa ingrata, porque utilizavam duas latas para fazer barulho, e os chupins levantavam em bando e pousavam uns 20 metros à frente, continuando sua sanha devoradora.
Tocando sua múltipla atividade, agora em condições financeiras mais favoráveis, aí nasceu João Santiago, em 1935 que viria a falecer com apenas um ano de idade. Aí nasceu também Maria Conceição (Kita) em dezembro de 1936.
Interessante registrar que a Venda daquela época era equivalente a um supermercado de agora, pois de tudo se comprava e também se vendia. Para entender melhor a importância que era dada a certos produtos, é necessário que nos transportemos para um tempo em que inexistia fogão à gás, portanto, uma mercadoria bastante valorizada era a lenha, e, dentre estas, a de cabuim (cambuim), porque formava um bom braseiro para cozinhar pães e bolos, e também, para passar roupas com os ferros-de-brasa. Também não havia geladeira, em conseqüência, a carne seca (charque, costela de porco), constituíam produtos muito procurados. Fumo em corda, porque inexistia cigarro de papel e o vício era instituição generalizada, pois eram desconhecidos os malefícios do cigarro; valorizado também era querosene para as luminárias, porque não havia luz elétrica; igualmente, tecido em metro porque não havia roupas feitas. A propósito, as costureiras constituíam uma classe de mão-de-obra muito valorizada, principalmente aquelas que confeccionavam roupas para acontecimentos sociais como casamentos, batizados e as concorridas festas de igreja.
Novo revés se abateria sobre a vida de João. Nos fundos da sua Venda passava um pequeno riacho, – o ribeirão que dera nome à localidade – e que desembocava na lagoa, local conhecido como Porto. Ali, bem próximo, João mantinha um depósito de mercadorias que eram estocadas para serem embarcadas nas canoas e levadas para o comércio atacadista de Laguna e Tubarão. No verão de 1937, justamente quando o depósito estava cheio das melhores e mais caras mercadorias, pela madrugada, uma violenta tromba d’água desabou sobre os morros, de lá descendo num extraordinário volume de água pelo riacho que se transformara num caudaloso rio, derrubando e levando pela frente tudo o que encontrava pelo caminho. Pegos de surpresa, nada pode ser salvo e a força da água jogou por diante todo o depósito e as mercadorias perderam-se na imensidão da lagoa.
Passada a tempestade, quando as águas voltaram ao nível normal, alguns artigos eram vistos boiando pela lagoa. Era a natureza mostrando toda a sua força e poder, deitando por terra o sonho e as esperanças do lutador João. Foi a derrocada de vários anos de luta justo no melhor momento de sua vida.
Ali próximo, o também comerciante Elói Figueiredo mantinha uma extensa plantação de milho bonita, quase em fase de colheita que, também atingida pela força d’água, ocorreu a perda total.
A enchente não poupou sequer a plantação de arroz – aquela em que o Nereu e o Nézio cuidavam com tanto zelo batendo latas. Tanto que numa previsão da colheita de 100 sacas, colheu-se apenas dez, ainda assim de baixa qualidade.
Restaram dívidas quase impagáveis. Mas para manter seu nome limpo, João renegociou a dívida e foi gradativamente honrando todos os compromissos assumidos com os fornecedores.
Enviado por: Seu Filho Geraldo Figueredo
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