JOÃO EUFRÁSIO DE FIGUEREDO – DADOS BIOGRÁFICOS – Parte V

publicado em:20/03/18 1:47 PM por: Jurandir Figueiredo Gente da TerraHistórias e Fatos

Quarta-Feira, 04 de Abril de 2007 | 4 comentários

IMBITUBA
A Caixa de Carvão do Porto de Imbituba se constituía numa obra grandiosa para a época. Quando fosse concluída, ela revolucionaria o transporte do carvão para o interior dos navios de forma mecanizada, substituindo o pesado serviço braçal até então utilizado, otimizando o tempo dos navios no Porto.

Sua profissão agora era carpinteiro, e, no dia seguinte começou a trabalhar. Porém, com o passar do tempo, deu-se conta que não era um serviço comum como aqueles em que estava acostumado a lidar. À medida que a caixa era construída, começou a ficar perigoso. Já estava numa altura equivalente a dois andares da plataforma do porto, e esta a outro tanto acima do nível do mar. A obra absorvia toneladas de madeira e quase vinte empregados. Era freqüente a notícia de acidentes, de vez que não havia os equipamentos de segurança no trabalho como se exige hoje.

E, numa tarde de forte lestada (vento leste, comum na região), que prenunciava um difícil dia de trabalho, João estava bem ao lado de um colega de serviço e particularmente seu amigo, de nome Anfilóquio, quando viu este despencar do alto da Caixa em construção. O acidente resultou na morte instantânea de Anfilóquio que bateu violentamente contra a amurada de um navio ancorado no porto. Apesar da profunda comoção que lhe causara a morte de seu colega e amigo, João permaneceu até a conclusão da obra. Depois, por méritos, foi reaproveitado na mesma Companhia, sendo designado para trabalhar na Granja, uma área bem organizada de hortifrutigranjeiros, incluindo-se criação de frangos e pecuária, destinadas a abastecer a tripulação dos navios que aportavam em Imbituba. Parte da produção era vendida no varejo, na “verdureira”, no centro da cidade, na rua Ernani Cotrim, proximidades da Cerâmica.

Tanto que se ambientou no novo emprego, João alugou uma casa nas imediações da Granja, na localidade conhecida como Sete. Havia passado mais de cinco meses desde a partida de João e a situação de Maria na Ponta dos Martins com as oito crianças era desesperadora. O principal sustento eram peixes e siris que ela própria, junto com os filhos, pescavam na lagoa.

Por fim, chegou a reconfortante e tão aguardada notícia. Deveriam botar as tralhas numa canoa que os deixaria no Porto da Vila. Ali a carroça do Júlio Peixe, pessoa folclórica e freteiro muito conhecido, transportaria a mudança até a nova casa. Assim, conforme combinado, num dia de sol escaldante, ocorreu o êxodo. Depois de transladada a mudança no Porto da Vila, a carroça ia à frente, logo depois a Maria, em seguida a Otília com o Franck no colo, ladeada pela Nilza com o Thiago de apenas seis meses de vida, também no colo, seguindo-se o Nelson, Nereu, Nézio e a Kita. Vencidos esses 4 km, chegaram exaustos e famintos à casa, no Sete. A primeira refeição foi uma baciada de retalhos de frango que João trouxe da Granja onde trabalhava e que Maria preparou com os melhores de seus dotes culinários. Finalmente, a família novamente junta, afastado o fantasma do desemprego.

Depois de alguns anos na Granja, no dia 1º de fevereiro de 1942, João foi remanejado para a Cerâmica, na função de Vigia. Agora um empregado com carteira assinada – “um respeitável cidadão”.

Imbituba o acolheu como se fosse um natural. Em pouco tempo já estava entrosado com as forças vivas da comunidade, principalmente na área religiosa, onde ele a professava com muito fervor, como o fizera durante toda a sua vida, herança marcante de seus ancestrais. Além da vida religiosa intensa que levava na igreja, e na Congregação Mariana, onde foi presidente por várias vezes, ele rezava em casa o terço de joelhos, todas as noites, cercado por seus filhos, inclusive os de tenra idade.

Otília, a filha de criação, tornou-se independente. Desde cedo foi trabalhar na Cerâmica. Muito bonita, casou-se e teve um filho, Orlando Pereira de Lima, nascido em 1945, que viveu completamente integrado no seio da família. Chamava João e Maria de pai e mãe, assim como a própria Otília.

Depois de passar por alguns setores na indústria de Cerâmica Imbituba Ltda., João foi nomeado almoxarife, recebendo as chaves das principais repartições, inclusive do Escritório, mercê da confiança que conquistara junto ao seu patrão, o empresário Dr. João Rimsa, recebendo ainda, como moradia, uma casa grande, compatível com a enorme prole que ele e Maria puseram no mundo.

Aí nasceram os demais filhos: Glória, Geraldo, Mário, Terezinha, Nézia, Nilda (Duda) e Paulo. Como era caminho natural, os filhos mais velhos foram se empregando na própria Cerâmica, e depois tomando cada qual seu rumo na vida. Exceção do Nélson que aí trabalhou até sua aposentadoria.

Pondo fim a 28 anos de intensa vida conjugal, Maria faleceu em 05 de novembro de 1954, quando o filho mais novo, o hoje Dr. Paulo, tinha menos de dois anos de idade. E, a partir dele, uma escadinha: a Duda, com menos de três anos, a Nézia, com menos de quatros anos, e assim por diante – fator determinante para que João pensasse num novo casamento a fim de que a nova mulher o auxiliasse na criação dos filhos menores.

Sua escolha recaiu sobre uma prima distante, conterrânea do Ribeirão Pequeno, enfermeira no Hospital de Laguna, Maria Mônica de Figueredo, do ramo dos Jerônimos, que, com a mesma dedicação e espírito maternos, criou todos os filhos como se delas fossem.

Nos primeiros dias de fevereiro de 1955, eu fui convidado por meu pai para acompanhá-lo ao Ribeirão Pequeno. Ele tinha o propósito de visitar seu irmão Clemente que se encontrava enfermo, fazia alguns dias. Depois da visita ao irmão enfermo e de visitar parentes e amigos, ele levou-me no alto de uma pedra de onde se avistava uma planície com várias cabeças de gado. Disse-me ele que naqueles campos seus avós criaram gado e que eles haviam fundado uma espécie de associação fechada, formada pelos primeiros imigrantes que lá chegaram. E que todos os descendentes daqueles primeiros associados tinham direito de criar gado naqueles campos.

Relatei esse fato, porque considero importante a informação de que “seus avós” – portanto, nossos bisas e trisavôs -, participaram da fundação da associação que permitia a engorda do gado no Campo da Eira, criada pelos primeiros moradores da região, fato que induz o convencimento de que nossos ancestrais integraram a última leva de imigrantes açorico-madeirense que ali aportaram em 1752.

João aposentou-se na cerâmica, em 1970. Após várias trocas de residência, inclusive no distrito de Vila Nova, foi morar na “casa do Nelson” localizada à Rua João de Oliveira Filho, no centro de Imbituba, onde veio a falecer no dia 9 de novembro de 1978. Aí também faleceu sua segunda esposa, a Mãe-Lica, dez anos depois.

Seu temperamento fleumático e disposição para colaborar espontaneamente com todas as iniciativas sociais e religiosas, lhe valeram uma importante homenagem que orgulha todos os seus descendentes: através de projeto de lei assinado pelo Vereador Pedro César da Rosa, a Câmara de Vereadores de Imbituba, aprovou a Lei Municipal que dá seu nome a uma via pública na Vila Nova, distrito de Imbituba, como homenagem póstuma.

Essa é a história comum de um homem humilde, bem verdade, mas que viveu com honras e soube educar pelo exemplo e pela coragem todos os filhos que lhe são eternamente agradecidos. Sua trajetória é referência para seus filhos, netos, bisnetos e quantos ainda descenderem da sua linhagem.

Florianópolis, 23 de fevereiro de 2007.

Enviado por: seu filho Geraldo Figueredo

 

Comentários
1 – Laerte Silva 05/04/2007
Meus parabéns, não deixei de ler um paragrafo é sem dúvida um relato histórico que de certa forma se repete em várias familias do Ribeirão. um abraço Laerte Silva

2 – Thiago Figueiredo 06/04/2007
Além de belíssimo, o trabalho é também muito comovente. Não há como ficar indiferente a beleza da pesquisa, do árduo trabalho, legando, a muitos e principalmente aos teus irmãos, esta história da vida do nosso saudoso pai… Obrigado pelo presente que hoje passas as nossas mãos e, tenha certeza, passará gerações… Obrigado por tudo e sobretudo por teres honrado a memória dos nossos ancestrais, não deixando cair no vazio do esquecimento tão importantes exemplos de vida Nosso pai estaria (ou está) feliz com teu empenho e amor devotado. Como diria ele agora; “Deus te abençoe” Um abração fraterno. Teu irmão Thiago.

3 – MOACIR FREITAS DA ROSA (Marron) 17/04/2008
Parabéns ao Geraldo pela brilhante narrativa da vida de um GRANDE HOMEM que deu exemplo de honestidade e perseverança. Eu já conhecia alguns fatos através dos seus filhos e meus amigos Dr. Paulo e Sr. Nelson. Um grande abraço de um admirador da Família Figueredo: Marron

4 – Bena 16/01/2009
Adoro minha zimba e, claro, todos os que ajudaram a construir sua história! Abraços! Bena



A última modificação foi feita em:março 11th, 2019 as 11:57 PM




Comentários



Adicionar Comentário